sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

António Sérgio - Efeméride da semana











António Sérgio de Sousa (Damão, 3 de setembro de 1883 — Lisboa, 24 de janeiro de 1969


Foi dos pensadores mais marcantes do Portugal contemporâneo, com uma vasta obra que se estende da teoria do conhecimento, à filosofia política e à filosofia da educação, passando pela filosofia da história.

Sob o ponto de vista dos conteúdos doutrinários, Sérgio encontrou a filosofia a partir de sua formação de engenheiro, ou seja, a partir da geometria analítica e da física matemática. O ponto de partida e o rumo da sua reflexão sempre permaneceu fiel ao que se lhe afigurara ser o génio íntimo dessas disciplinas, a saber, a passagem do sensível para a relacionação matemática, e a tendência a definir o objecto científico pelo resultado da operação matemática.

Queria isto dizer que a história da ciência, sobretudo a da física sua contemporânea, acabava por ser uma confirmação da filosofia de Platão, Descartes, Malebranche e Kant, identificando-se com o acentuar da capacidade operativa do sujeito no âmbito gnosiológico, e, portanto, com a actividade criativa do intelecto, transformando a ciência na ascese dos tempos modernos.

Diferentemente do que sucedia na física de Aristóteles, em que a ciência era entendida à luz de um modelo discursivo, no qual inteleccionar o real, o particular e o concreto era classificá-lo sob o ponto de vista de uma ideia abstracta, e não condensá-lo num tecido de relações criadoras, a essência do intelecto radicava agora nessa sua natureza constitutiva da experiência, pelo que o pensamento científico é assumido como pensamento-criação e não como pensamento-síntese, guiado por um «dever-ser-inteligível» que determina que se crie a solução apenas depois de haver formulado o problema.

Neste contexto formulou a sua doutrina sobre o socialismo cooperativista. Sérgio, considerava secundário o valor atribuído pelos republicanos à reforma das instituições políticas, desde que tais reformas parassem na esfera política, sem abarcarem a esfera económica e social, surgindo-lhe o cooperativismo como a forma de organização social mais consentânea com a sua concepção do homem como ser activo e criador. À socialização sob a omnipotência do estado, preferiu a socialização pelas cooperativas, pondo a faina sob a acção do povo e não de políticos ou de partidos.
Em coerência com o seu sistema de pensamento, defendeu que a democracia, ao invés de ser uma coisa é uma actividade que se identifica com o processo da cultura, um dinamismo de essência espiritual, um fim que radica na autoridade crescente de cada um sobre si próprio, acabando por tornar o estado desnecessário, pois substituído pelo império de cada alma livre. Assim, a vontade geral que a democracia invoca é «a vontade de qualquer indivíduo, sempre que este, para proceder, toma uma atitude de pensar objectiva, racional, geral», subindo do indivíduo à pessoa, do plano biológico ao plano do espírito, fazendo o homem coincidir com o cidadão



Ensaios - 8 vol.   316.72(469)/SER

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