quarta-feira, 29 de outubro de 2008









O Cargo e a Casa

João Baptista Van Zeller, filho de famílias nobres naturais de Antuérpia e Nimeguen vindas para Portugal nos fins do século XVIII dedicar-se ao comércio, casa com sua prima D. Teresa Crisóstoma Van Praet na freguesia de S. Nicolau de Lisboa a 26 de Julho de 1716. Institui vínculo de morgado nos Olivais, e aí edifica a sua casa de família, numa quinta ainda hoje chamada “do Contador”, na Azinhaga do Búzio, a qual ostenta um pedra de armas com o brazão de seu filho Lourenço Rodolfo Van Zeller, último Contador-Mor da Casa do Contos de El-Rei.
Tendo ficado viúva D. Teresa, compra o ofício de Contador-Mor por um donativo de 42 contos de reis, “ E, como no precioso século XVIII português, não se cuidava que uma dama, flor de graça e elegância pudesse andar servindo pelas repartições do Estado, a D. Teresa cabia apenas em sua vida a administração do ofício, e a seu filho mais velho servi-lo, para o que lhe foi passado alvará da dita serventia em 26 de Maio de 1746”.
Lourenço Rodolfo Van Zeller começou a servir com zelo e assiduidade. Munido de bons rendimentos e foros de fidalgo, além do lugar de saliente honra que ocupava na burocracia do Reino, o jovem Contador-Mor em breve fez um bom casamento. A 21 de Novembro de 1751, casava com D. Maria de Lima e Melo Falcão de Gamboa Fragoso, herdeira da grande casa de seus pais, José Falcão de Gamboa Fragoso e Leocádia Felícia de Assis de Almeida, em que avultavam grandes riquezas com que Leocádia fora dotada por D. João V em atenção a ser irmã de Paula Teresa, freira de Odivelas, conhecida com o nome de Madre Paula.
Passados quinze anos sobre a sua nomeação, Lourenço Rodolfo Van Zeller via-se despojado do ofício de Contador-Mor pela extinção do cargo, por ordem do Tribunal de Contas, em 22 de Dezembro de 1761.
A casa da Quinta do Contador-Mor registada no “Livro das Décimas” do arquivo de Tribunal de Contas referente ao ano de 1763 expõe o numerário cobrado e descreve: “ Quinta de Lourenço Rodolfo Vãzeller, consta de Casas nobres com lojaz, quarto terreo, e primeyro andar com todas as maz offecinaz, e jardim, ficando frente das ditas lojaz em separado corpo defronte da mesma quinta, que se compoem de vinha, arvores de fruto de caroço, parreyras e oliveyras tudo murado...”
Como se vê embora os registos oficiais a refiram com o nome Lourenço Rodolfo Vãzeller, a Casa apropria-se do nome do ofício do seu proprietário “Contador-Mor” e assim fica popularmente conhecida.


A Toca
Representativa das antigas casas afidalgadas e de uma época romântica descrita por Eça, em os Maias “com que alegria, ao deixar os Olivais, correu à rua de S. Francisco a anunciar a Maria Eduarda, que lhe arranjara enfim definitivamente uma linda casa de campo”. E talvez porque as inúmeras quintas foram desaparecendo e a Casa da Quinta do Contador-Mor permaneceu, estava ali, a despertar memórias, sensações de pertença e de identidade, as gentes locais vão estabelecer relações simbólicas entre a Casa e a descrição de Eça, e passam a designá-la por “Toca” projectando neste espaço o universo do romance.




Biblioteca Municipal dos Olivais




Da sua traça inicial pouco resta, a casa foi sofrendo alterações e remodelações, as suas reminiscências mais evidentes são, o pátio de entrada com o chafariz, o alpendre e uma secular arvore no jardim. O interior conserva ainda alguns aspectos de bastante interesse pictórico, algumas lareiras revestidas de azulejos, alguns arcos de tijoleira, uma sala com lambris de madeira e pouco mais.
Esta casa recuperada pela Câmara Municipal de Lisboa, alberga hoje a Biblioteca Municipal dos Olivais e oferece-se como espaço de referência da nossa memória colectiva.


Esta é uma das Bibliotecas Municipais de Lisboa.

Esperamos que nos visite.

Sem comentários: