Aconteceu no fim-de-semana de 8 e 9 de Junho, o
Pitchzin - O pitch dos criativos, na simpática cidade de Santa Maria da Feira (SMF), cidade essa reconhecida pelos seus grandes eventos como o
Imaginarius ou a
Viagem Medieval - eventos esse que deixam marcas, como se pode ver pela segunda fotografia, em que vemos
um "alto-relevo" em cortiça do artista Vhils numa parede do edíficio da Câmara Municipal.
Apesar de todas as nossas cidades parecerem todas a pátios assépticos graças ao programa Polis, em que tudo é transformado em mármore, acrílico e pilaretes, SMF não deixa de ser agradável ao olhar, cheia de habitantes jovens, uma vida noturna com escolhas musicais bastante ecléticas, e sobretudo belos espaços rurais bem conservados como a
Casa do Moinho (2ª foto deste grupo) onde decorreu o evento.
Os convidados de "fora" foram a
Associação Chili Com Carne (associação sem fins lucrativos,
plataforma editorial de Cascais / Lisboa), a
Azul Caramelo (empresa de ilustração portuguesa sediada no Porto) e a
Inauguro (organização de um evento de inaugurações simultâneas em Viana do Castelo), este últimos representados pela loja
Objectos Misturados (que trouxe "coisas" - imagem) e o atelier de arquitectura e espaço "co-work"
Dinamo 10.
Curiosamente todos estes projectos são geridos de forma independente, em alguns casos, em manifesta oposição ao lento e burocrático sistema público, como acontece com a Inauguro que prefere não ter apoio da Câmara de Viana de Castelo porque já é um projecto auto-sustentado e a Câmara ao dar um apoio minímo ainda ficariam com os louros todos. Da Chili Com Carne a dada altura disse até que «ainda bem que o dinheiro está acabar porque assim podemos ver quem é mesmo independente, afinal, quer a Ágata ou os Xutos & Pontapés só são sucesso da "iniciativa privada" porque as juntas de freguesias e câmaras pagam pelos seus espectáculos, senão não sobreviviam nem um ano e teriam desistido das suas carreiras "artísticas"...»
Mas a "iniciativa privada" ou "ser independente" nem sempre significa eficiência, pelos vistos, tanto que o primeiro dia do evento teve muito pouca adesão de público - e em especial de criativos da cidade, o público-alvo do evento que deveria interagir com os convidados especiais. Na manhã de Sábado as apresentações foram para os convidados, sempre em ambiente "relax" como se pode ver pela fotografia...
À tarde, finalmente apareceram os criativos - sobretudo ilustradoras - que dos quais destaco as seguintes presentes na fotografia. À direita,
Rosana Couceiro mostra o seu
portfolio, sem dúvida o mais profissional do evento. Preparou-se e mostrou tudo o que sabe fazer na sua área: ilustração digital, "character design", web design, animações, etc... um trabalho imenso sobretudo no universo comercial e juvenil, em que provavelmente qualquer um de nós já tropeçou no seu trabalho quando mexeu numa "app" qualquer no telemóvel. É portanto, um tipo de trabalho quase invísivel de autoria dado à redudância / obrigatoriedade (?) de uso de tipificações (como desenhos "cute", infantilizados ou estilo "manga") que satisfaz um mercado enorme deste séc. XXI - século que já é mais "século das imagens" em apenas 13 anos de existência, do que os 100 anos do anterior. Seja como for, é um trabalho exemplar de quem não está aqui para brincadeiras... À esquerda, Alexandra Gonçalves, a.k.a.
Tisnadas de Esplanada, meio-trapalhona e meio-verde demonstra um caminho autoral mais nítido mas com muito para percorrer, não sei se ela percebeu o que eram os convidados especiais porque esteve a dormir de manhã... buu!!! Admito que o comentário é injusto porque sabemos que ela andou a frequentar
os recentes workshops da Azul Caramelo, o que mostra que ambas autores, em direcções opostas, têm vontade de evoluir e investir no seu trabalho - e isso vale ouro!
Acabou assim o primeiro dia, com os convidados especiais muito alegres a discutirem todo o tipo de assuntos num bar irlandês, que desgraçadamente tinham um vinil dos
Front 242 pregado na cabide do DJ! Bárbaros! Desculpem o "à parte"! No fim de contas, este dia serviu mais para os convidados especiais conhecerem-se melhor... nem sabiam o que lhes ia acontecer no dia seguinte!
Domingo de manhã ainda foi pior, até os "Caramelos" não vieram (do Porto), só à tarde é que apareceram. Uma óptima altura para explicar o serviço
Bedeteca das BLX, representado por este escriba, convidado para presenciar o evento. Assim sendo, o empenhado organizador do Pitchzin,
Ricardo Fonseca (ao meio nesta foto), levou-nos ao castelo de SMF, aos abandonados matadouro municipal e jardim do INATEL, e a almoçar. Almoço esse que se atrasou quando, pasme-se, finalmente apareceu toda a gente!!!
Bom! E agora? Toca a repetir apresentações!!! Esperem, chegou a vereadora!
E o seu caladinho assessor! A Dr. Cristina Tenreiro falou, falou e falou, como qualquer político educado, mas só daquilo que agora todos falam hoje em dia em eco infinito: "sustentabilidade", "inovação", "empreendedorismo", etc... Palavras ocas que alguém disse a dada altura, já no final do evento se não podíamos voltar a usar palavras clichés antigas como "sexy" ou "glamour"? Tarde demais, a vereadora e o fotógrafo da câmara já não estavam presentes...
Claro que não estou a "cuspir no prato que comi", só numa câmara com excelentes estruturas como esta SMF e aberta ao mundo e aos eventos internacionais, é que poderia apoiar um projecto deste tipo mas os seus responsáveis deverão ter consciência que nestas alturas não se deve fazer política mas sim ouvir os outros - que tiveram de repetir as apresentações pela terceira vez! - para perceber o que poderão fazer com eles de futuro - ou não!
Agora sim a sala estava cheia, e com pessoas de várias áreas e projectos que na realidade não se ficaram a conhecer tanto assim, até porque os clichés como "crise", "sustentabilidade", "empreendedorismo" (palavra chata para se escrever e dizer correctamente, não?), etc... vinham sempre à baila sem trazer mais-valia.
Quem falava sempre de "dinheiro"
ad nauseum era Paulo Pais (1º plano nesta foto), administrador executivo da
Feira Viva, empresa municipal que organiza os enormes eventos referidos no primeiro parágrafo deste "post". É verdade que é necessário "financiamento" para pôr projectos criativos a funcionar mas com a dispersão coloquial do evento nem os convidados especiais poderam explicar as suas equações "criatividade / financiamento" que se calhar são modelos alternativos às fórmulas tradicionais. Pergunto se o Sr. Pais olhou como deve ser para os livros e ilustrações dos convidados especiais e criativos locais? Será que alguém percebeu como a Chili Com Carne ou a Azul Caramelo conseguem fazer os seus livros e cadernos? E estes convidados conheceram ou tiveram tempo de conhecer o público pró-activo presente? Acho que não... porque a vereadora ou o Sr. Pais não tem a "sustentabilidade" nem o "empreendedorismo" para conhecer o "outro", que nem se quer estava a pedir nada a eles. Não é só o Polis que nos molda, pelos vistos.
O organizador Fonseca devia ter metido mais regras e intervenções para cortar a "conversa da treta", só para que não se repetisse as mesmas questões ou para conversas dispersas e contra-producentes. De certo, que ele não irá cometer os mesmo erros de futuro como, por exemplo, confiar naquelas pessoas que metem "eu vou" no Facebook.
Texto de Marcos Farrajota / Bedeteca de Lisboa
Fotos de Joana Pires / Chili Com Carne
