quarta-feira, 12 de março de 2014

Exposição de Pedro Cavalheiro - a não perder




Pedro Cavalheiro na Arte Graça






DUAS PALAVRAS AO PÚBLICO DA MINHA FOLHA ACERCA DA MINHA EXPOSIÇÃO



Querem saber o que é que é uma verdadeira conspiração dos reis magos? Pois é assim: não vou para aqui pôr-me a explicar o que é têm sido uma quantidade de peripécias mirabolantes e inimagináveis mais ao género daquela série bastante famosa, americana, chamada o “Sobrenatural” do que outra coisa que uma pessoa possa preferir. Quem me conhece melhor ou me terá ouvido ou não e eu não vou incomodar ninguém a repetir nada do que já possa ter dito. Nada preciso de provar, mirabulante foi tudo o que aconteceu. Quem teve a iniciativa desta exposição foi o Rodrigo, para quem não o conhece Rodrigo Bettencourt da Câmara é um rapaz que eu conheci quando tinha doze anos e era e ainda é irmão de um amigo meu que andava nesse tempo na escola preparatória Francisco Arruda, um ano mais velho do que eu, de modo que a primeira vez que o vi era ele um garotinho de um ano de idade. Para que se saiba Rodrigo Bettencourt da Câmara profissionalizou-se em restauro depois de frequentar o curso do museu de arte antiga leccionado pelo professor Lagoa Henriques que foi também nosso professor nas belas artes, digo nosso porque também foi dos Homeostéticos, do José Eduardo Rocha, da Maria João Saraiva, e de mais uma quantidade de gente, e depois, já com muita experiência profissional, foi fazer o curso das belas artes e chegou a desempenhar o papel de professor da cadeira de restauro que recentemente deixou. Foi portanto este rapaz que fez com que esta exposição acontecesse, em que quis que eu participasse com outro rapaz chamado Carlos Gaspar que tinha feito uma pequena quantidade de aguarelas de grande formato executadas em jardins. Rodrigo mostrou-me essas aguarelas pela primeira vez através do telemóvel, é claro, não as pude apreciar bem, ao mesmo tempo que o ouvia queixar-se da desconsideração que esses trabalhos tinham merecido quando Rodrigo as fez ver a determinados membros do elenco dos actuais mestres das belas artes agora promovida a universidade. Não sei se este meu amigo também lhas mostrou pelo telemóvel, o rapazinho tem também muita coisa de mirabulante, como aliás todos os seus outros dez ou onze irmãos e irmãs, e não se espere que outra coisa possa ser gente de quem eu sou amigo há tanto tempo e isto sem que nunca uma zanga fosse irreconciliável, nem tendo afinal havido nenhuma, a não ser com o tal que foi meu colega de escola talvez, mas isso porque crescemos com práticas diárias de luta greco romana quando éramos garotos, até nos tornarmos adultos. Depois chegou a mostrar-me as ditas aguarelas abrindo a porta traseira da carrinha, de noite, aqui na avenida, á luz dos candeeiros. O que lhe respondi na altura foi que os tempos em que vivemos são assim e algumas coisas lhe hei-de ter explicado por causa da reacção lá dos colegas dele profs das belas artes, tudo gente mais velha do que ele e até que eu alguns, e bem conheço a actitude, tantas vezes sarcástica, normalmente elitista, não poucas vezes alegre, daquela gente que tem ali que cumprir um dever educativo, e sabemos também que, se já na modernidade, quanto mais na pós modernidade, ao antigo preconceito um outro preconceito diametralmente antagónico se sobrepôs e que a coisa está sempre cingida ou a uma realidade ou a uma intenção que é forçada a cumprir-se quanto mais não seja para que essa mesma nova realidade se forme. Quando montámos a exposição, pude então ver às claras o que eram os trabalhos de Carlos Gaspar e era verdade que era preciso cuidado, por poder aquilo apresentado duma forma qualquer parecer um convencionalismo deveras antiquado, próximo ainda do exercício escolar, e assim, metendo rédeas à disposição daquelas peças, penso que consegui mostrar que era possível provar, se não o contrário, pelo menos que era possível vencer esse perigo. Mas o que foi verdadeiramente mirabolante vem agora: nessa mesma noite, deixando a minha parte da exposição completamente disposta, ao querer adormecer, diabólica inquietação tomou conta de mim. Quando Rodrigo me falou da sala que havia disse-me que eram duas salas, domina mal a eloquência este excelente rapaz, pelo que me contou imaginei-a maior. Os meus trabalhos, se bem que de formatos pequenos, eram mais de cinquenta, nem todos tinham podido ser emoldurados ainda, os que estavam tinham sido aprontados por ele, se com algum critério não tinha sido por mim, falar tínhamos falado insuficientemente. Como a coisa ia, agora sim, arriscava-se a caír nesse convencionalismo, escrevi-lhe uma folha a explicar. Rodrigo não a percebeu bem, respondeu-me que a exposição tinha que ser feita, não havia tempo de voltar atrás. Escrevi-lhe outra, mais detalhada, percebeu, combinou e veio cá para encontrarmos uma solução. Quando o vi, um tanto ansioso, à procura de qualquer coisa no meu espólio, compreendi. O que o rapaz procurava era ulisipografia, como era o acervo que tínhamos retirado, disse-lhe que não ia encontrar o que queria. Só então é que me respondeu, tinha dito aos edis que era sobre Lisboa o projecto que primeiro tínhamos aprovado, ia ser complicado aparecer agora com uma coisa diferente, percebi. Sendo assim íamos fazer uma coisa com o que eu tinha aqui de mais antigo, tudo coisas do tempo em que eu era estudante das belas artes, assim era possível montar qualquer coisa de ulisipográfico bastante precioso, já antigo, de 1981 a 1985 e assim foi. Rodrigo partiu para o ARCO, a coisa ficava práticamente pronta, Carlos Gaspar mandava-me o cartaz com o título para eu o divulgar pela Internet. Rodrigo tinha-me dito qual era, perguntava-me se eu aprovava, “Se num jardim não sei quê não sei que mais…”não sei quê não sei que mais?  isso aprovo de certeza, respondi-lhe. Não houve condições, nem tempo para nos lembrarmos de falar mais no assunto, não queiram compreender este fenómeno sebastianista dos manos Câmara, ó pátria, ó civilização. E é aqui que entra a conspiração dos reis magos: Carlos Gaspar, sem que Rodrigo me tivesse deixado qualquer número de telemóvel, que eu lhe pedi, enviou-me o cartaz pela net, que imediatamente divulguei. Só que na folha dizia um recado que era mudado o dia para sexta feira. Acreditei, isto é um episódio autenticamente à Aleister Crowley como vão ver: não obstante desconfiei, deixei uma mensagem no telemóvel do Rodrigo entretanto já em Madrid. Respondeu-me, que não, que era na quinta feira. Na manhã seguinte tentei falar com a junta de freguesia, claro está, de manhã ninguém respondia, era muito cedo, havia dois números na lista telefónica, eu próprio estava com sono, só vi um, depois ouvia-se um fax. Da parte da tarde atenderam-me, deram-me toda uma sequência de outros números até que consegui falar com um responsável. Que não, que a exposição era já, ás seis. Confirmar, encontrar o Carlos Gaspar, já era tardíssimo quando o sonso, telefona ele próprio, a explicar-se. De caminho corri à biblioteca para desmentir a alteração. Quando cheguei à exposição estava lá uma única pessoa de todos os meus convidados, nem tinha visto o desmentido. Mais, apareceram só duas das minhas irmãs e dois sobrinhos. Vejam bem se este episódio não é como o do desaparecimento de Aleister Crowley, 666, na Boca do Inferno no tempo do Fernando Pessoa…

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